Eles vão fazer acontecer

Eles vão fazer acontecer
Angolanos da Biocom participam de programa de capacitação na ETH





texto: Guilherme Oliveira


Pavlov Dias Neto nasceu em Luanda, em 1980. Um curso técnico em Agropecuária lhe garantiu as primeiras oportunidades de trabalho, mas o interesse por informática logo o fez migrar para a área de Tecnologia da Informação. Ele não imaginava que anos depois, como integrante da Biocom, companhia angolana produtora de açúcar, estaria em Rio Brilhante (MS), aprendendo a produzir etanol, açúcar e energia elétrica na Unidade Eldorado da ETH Bioenergia.

A Biocom, que tem Odebrecht, Sonangol e Damer como acionistas, possui uma usina em construção na Província de Malange, que deve iniciar operações no segundo semestre de 2010. Pavlov faz parte do grupo de 62 integrantes da empresa que veio ao Brasil em agosto para participar de um programa de capacitação de 1.200 horas de aulas teóricas e práticas nas áreas agrícola, industrial e administrativa: “Essa será a segunda usina do continente africano e a primeira de Angola. Viemos aqui entender a operação”, ele explica. Desenvolvido pela ETH, o programa tem como objetivo capacitar os treinandos a operar por processo, e não por equipamento.

A fim de que todos tenham domínio de cada passo da produção, a turma participou do curso de Fundamentos do Processo de Fabricação de Açúcar e Álcool do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Deodápolis, parceiro da ETH no programa. Além de aprender sobre a operação e de se colocar em condições de participar da construção da usina em Angola, o grupo volta para seu país de origem em dezembro para disseminar o conteúdo aprendido no Brasil, explica Wanda Lubaco, 26 anos. “Somos um grupo pequeno e em seis meses de treinamento não aprenderemos tudo, mas todos aqui estão conscientes de que temos de absorver o que for possível para ensinar nossos companheiros”, afirma Wanda, treinanda de Fabricação de Açúcar.

O tempo curto impõe um ritmo puxado: quatro horas de aula e oito de estágio por dia, de segunda a sábado. “O curso é muito completo. Não estamos aprendendo a operar a nossa usina, estamos aprendendo a operar qualquer usina”, afirma Pavlov. Apesar da complexidade dos processos, o maior obstáculo que o grupo encara é a saudade de casa. “Não poderíamos ter sido mais bem recebidos no Brasil, um povo muito alegre, assim como o povo angolano. Mas todos sentem falta da família, confessa Wanda.

A fim de trazer um pouco de Angola para o Brasil, os estagiários aproveitam os domingos para fazer suas comidas típicas, como o funge, e dançar semba e kuduro, ritmos tradicionais do país africano. “Daqui a pouco estaremos com saudade é do Brasil“, brinca Wanda. Pavlov afirma: “Vamos voltar para Angola dominando algo que poucos no continente sabem fazer. Poderemos participar ativamente da reconstrução e do desenvolvimento do nosso país. É isso o que todos viemos buscar aqui”.

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